Entidades pedem investigação após gravações com detetive que falou em forjar flagrante; defesa de Mauro Mendes (DEM) fala em queixa ‘mentirosa’ e ‘caluniosa’
O caso é analisado pela Corregedoria da PF, que recebeu do jornalista áudios e gravações com um detetive particular que teria sido contratado para tentar forjar um flagrante de tráfico ou pedofilia contra Aprá.
A defesa do governador Mauro Mendes diz que a notícia-crime protocolada na PF é “mentirosa” e “caluniosa”. Entidades de imprensa cobram a investigação do caso.
Alexandre Aprá participa desde julho deste ano do Programa de Proteção Legal para Jornalistas criado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Ele alega ter sido constrangido e perseguido judicialmente nos últimos anos por causa de publicações sobre supostas irregularidades no governo Mauro Mendes. Na notícia-crime, o jornalista anexou vídeos e áudios que somam três horas de gravação nos quais o detetive particular Ivancury Barbosa diz ter sido contratado porque a primeira-dama, Virgínia Mendes, estaria incomodada com a quantidade de reportagens publicadas sobre ela no Isso é Notícia.
As gravações foram obtidas com a ajuda de um amigo, que fingiu ser desafeto de Aprá para se aproximar do detetive. Durante a conversa, Ivancury afirma que presta serviço para uma pessoa que tem ‘poder no estado inteiro’.
Na gravação, o detetive diz que foi contratado por outra pessoa, mas que a primeira-dama sabia e que o nome dela não poderia ser mencionado.
Na gravação, ele afirma que firmou contrato com o empresário e publicitário Ziad Fares, dono da ZF Comunicação, que presta serviços de comunicação para o governo de Mato Grosso. Em julho deste ano, Aprá noticiou que a primeira-dama teria recebido uma joia de presente de Ziad. Nos vídeos, Ivancury diz que foi apresentado a Ziad pela advogada Carla Mendes, mulher do juiz Yale Sabo Mendes, que é primo do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes.
Aprá afirma que, diante das gravações, conseguiu descobrir que vinha sendo monitorado por um aparelho de GPS fixado em seu carro. O jornalista entregou aos policiais federais o aparelho e um vídeo em que mostra a sua retirada do veículo.
Em um dos áudios, Ivancury insinua que poderia ganhar dinheiro caso matasse Alexandre Aprá.
Após descobrir que havia sido gravado, o detetive enviou um áudio para o jornalista, no qual faz uma série de ameaças e diz que ele deveria “ficar quieto” sobre o caso. O áudio, enviado para o telefone de Aprá, também foi anexado na notícia-crime enviada para a PF.
“Eu acho que era bom você ficar meio quieto com isso aí porque se for fazer graça, você entendeu? Você está querendo acusar os outros, está querendo jogar merda no ventilador, eu sou detetive eu posso fazer isso, eu sou detetive eu posso fazer isso, eu acho que era bom você deixar meio quieto as coisas porque ninguém vai fazer nada de mal com você não, mas você também não vai continuar com esse jornalzinho marrom esculachando todo mundo”, afirmou.
A Federação Nacional dos Jornalistas e o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Mato Grosso repudiaram as ameaças sofridas pelo repórter.
“A liberdade de imprensa está sendo atacada e o direito da sociedade à informação está sendo desrespeitado. Alexandre Aprá está sofrendo prejuízos à sua atividade profissional e também à sua vida pessoal. A ação das autoridades competentes é, portanto, urgente. A liberdade de imprensa é imprescindível à democracia”, diz trecho da nota. O advogado Hélio Nishiyama, que representa o governador Mauro Mendes, afirmou em nota que a notícia-crime é “mentirosa” e “caluniosa” e diz que o jornalista investe de forma recorrente contra a honra do governador e da primeira-dama. O advogado afirma que em 2020 o Tribunal de Justiça de Mato Grosso o condenou à pena de 1 ano e 3 meses de detenção pelo crime de calúnia. O processo ainda segue na Justiça. O advogado Vinicus Cegatto, que representa Ziad Fares, disse que o empresário jamais ameaçou qualquer jornalista. Ele diz que também são falsas as afirmações de que Ivancury foi contratado por Ziad. A reportagem entrou em contato com a advogada Carla Mendes, mas ela não respondeu nem atendeu as ligações.